China aumenta importação de borracha: demanda firme ou estoque estratégico?
Importações chinesas de borracha natural sobem 24% no primeiro semestre de 2025, enquanto preços internacionais recuam diante do excesso de oferta. Entenda os motivos e os cenários para os produtores brasileiros.
No primeiro semestre de 2025, a China — maior consumidora mundial de borracha natural — aumentou significativamente suas importações. Segundo dados da Administração Geral das Alfândegas chinesa, compilados pelo portal vietnamita Nongnghiep, o país importou 4,1 milhões de toneladas de borracha natural e sintética (incluindo látex) entre janeiro e junho, alta de 24% em relação ao mesmo período de 2024, e 599 mil toneladas somente em junho, um avanço de 27% em relação ao ano anterior. A tendência contrasta com o recuo de preços observada nos mercados futuros e spot e levanta a dúvida: trata‑se de uma puxada de demanda ou apenas recomposição de estoques?
As importações são explicadas em parte pelo apetite das fabricantes de pneus, que respondem por cerca de 70% da demanda global de borracha, e pelo planejamento das empresas para cumprir contratos internacionais. Pórem, analistas de mercado apontam que os compradores chineses aproveitaram a queda nos preços internacionais para reforçar estoques estratégicos. Em abril de 2025, por exemplo, o mercado chinês de borracha registrou queda de 4,2% no mês, de acordo com a consultoria Procurement Resource, reflexo de um excesso de oferta e de uma procura mais tímida. O mesmo levantamento destaca que os principais países produtores — Tailândia, Indonésia e Vietnã — entraram em pico de produção no segundo trimestre e abasteceram os portos com volumes recordes, enquanto os estoques já estavam elevados em Qingdao. Esse contexto favorece compras oportunistas.
Do lado da demanda, há sinais mistos. O setor automotivo chinês, principal consumidor de borracha, mostrou crescimento neutro no primeiro semestre, levando os fabricantes de pneus a trabalhar com estoques existentes e adotar uma postura prudente. Além disso, tensões comerciais e novas tarifas entre grandes economias contribuíram para um ambiente de incerteza, freando a atividade industrial. Nas bolsas internacionais, os preços seguem pressionados: em 24 de junho, os futuros de borracha RSS3 na Tóquio Commodity Exchange recuaram 0,7%, para 299,4 ienes/kg, enquanto na Shanghai Futures Exchange o contrato de julho caiu 0,94%, para 13.730 CNY/kg. Em Bangkok, o contrato tailandês para julho cedeu 0,48%, para 73,15 baht/kg.
Diante desse cenário de preços deprimidos e oferta abundante, a escalada das importações chinesas pode ser interpretada como uma estratégia de abastecimento a baixo custo, antecipando possíveis restrições de oferta no fim do ano. O excesso de chuvas no Sudeste Asiático durante a temporada de corte — que já vem atrasando a produção na Tailândia e Indonésia — e as discussões sobre a taxa de importação americana podem gerar volatilidade no segundo semestre. Ao assegurar volumes maiores agora, os importadores protegem suas linhas de produção contra choques e se posicionam para eventuais altas de preço.
Para os produtores brasileiros, a mensagem é ambivalente. Por um lado, a recomposição de estoques na Ásia tende a sustentar o fluxo exportador ao longo do ano, sobretudo para a borracha técnica de alta rastreabilidade, onde o Brasil pode se diferenciar. Por outro, o excesso de oferta global e os grandes inventários em Qingdao indicam que a recuperação de preços será lenta. A tendência é de um mercado lateralizado, com oscilações pontuais de curto prazo. Diante disso, é recomendável adotar estratégias de hedge, monitorar de perto os prêmios nos mercados de futuros e usar ferramentas de gestão como o aplicativo Seringueiro para rastrear produção, registrar contratos e estruturar vendas escalonadas.
Em resumo, a alta de 24% nas importações chinesas no primeiro semestre de 2025 não significa, por si só, uma explosão de demanda. Trata-se, provavelmente, de um movimento de recomposição de estoques em um contexto de preços comprimidos e oferta abundante. A capacidade de interpretar esses sinais e tomar decisões estratégicas será crucial para maximizar margens e aproveitar oportunidades. Continue acompanhando o Painel Aberto para análises aprofundadas e utilize as soluções digitais para profissionalizar sua gestão.
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