Chuvas na Ásia e demanda chinesa fraca pressionam preços da borracha natural em outubro de 2025

Chuvas intensas no Sudeste Asiático e a desaceleração do mercado automobilístico chinês provocam volatilidade nos preços da borracha natural em outubro de 2025. Saiba como essas forças impactam a oferta global e as estratégias recomendadas para o produtor brasileiro.

Chuvas na Ásia e demanda chinesa fraca pressionam preços da borracha natural em outubro de 2025
Photo by Rahmadiyono Widodo / Unsplash

Mercado global em outubro de 2025

O mercado mundial de borracha natural iniciou outubro sob forte volatilidade. De acordo com dados da Trading Economics, os contratos futuros de borracha em Cingapura foram negociados próximos de 170 centavos de dólar por quilo, tocando o menor nível em mais de uma semana. Em 13 de outubro, a cotação de referência recuou para 172,40 centavos de dólar por quilo, queda de 0,29 % em relação ao dia anterior e de 0,40 % no último mês. A comparação anual mostra retração de mais de 13 %.

Analistas atribuem a pressão nos preços a uma combinação de fatores: petróleo mais barato, que torna o látex sintético mais competitivo, demanda fraca da China após o feriado da Golden Week e reposição pré‑feriado já concluída. Embora compras antes do feriado tenham sustentado as cotações no início do mês, a retomada das sangrias em grandes produtores e dados econômicos abaixo do esperado na Ásia reduziram o fôlego das altas.

Oferta pressionada por chuvas e gargalos logísticos

Os produtores asiáticos, responsáveis por cerca de 90 % da oferta mundial, enfrentam um ambiente climático adverso. A Tailândia, maior produtor global, registrou chuvas torrenciais e alertas de enchentes em outubro. Relatórios de mercado apontam reação dos preços das matérias‑primas devido às fortes chuvas, com a autoridade meteorológica tailandesa alertando para riscos de transbordamentos e alagamentos. Pesquisas da Finimize destacam que a oferta está sendo constrangida por condições climáticas severas, o que elevou os preços nos últimos pregões em mercados como a bolsa de Osaka.

Além disso, dados do Departamento de Estatísticas da Malásia mostram que a produção de borracha natural malásia caiu 12,8 % em agosto, para 31.285 toneladas, refletindo interrupções climáticas e substituição por outras culturas. Embora a Indonésia e o Vietnã estejam em plena safra, a retomada das sangrias após o pico do verão ainda não compensou as perdas anteriores. Os embarques também sofrem com gargalos logísticos provocados pelas chuvas, aumentando o custo de transporte e limitando a disponibilidade no mercado spot.

Demanda enfraquecida pela desaceleração do setor automotivo chinês

Enquanto a oferta sofre com o clima, o lado da demanda mostra sinais de desaceleração. A China, maior compradora mundial de borracha natural, atravessa um momento de fraqueza no consumo. Segundo reportagem da Reuters, a montadora BYD registrou queda de 2,1 % nas vendas no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período de 2024 – a primeira retração trimestral em mais de cinco anos. O feriado prolongado da Golden Week, com o mercado chinês fechado entre 1º e 8 de outubro, reduziu o volume negociado, e dados econômicos fracos reforçaram a percepção de demanda contida.

O enfraquecimento do mercado automobilístico impacta diretamente o consumo de borracha, já que pneus representam a maior aplicação do látex. O contrato para entrega em março na bolsa de Osaka recuou cerca de 1 iene (−0,33 %) para 299 iene/kg, enquanto o contrato de referência na bolsa de Cingapura (SICOM) encerrou a 168,7 centavos de dólar por quilo. As oscilações cambiais também influenciam: a desvalorização do iene torna os ativos japoneses mais atrativos para investidores estrangeiros, mas a recuperação só se sustenta com a retomada do consumo.

Oportunidades e riscos para o produtor brasileiro

Para os seringalistas brasileiros, o cenário internacional de oferta restrita e demanda enfraquecida é paradoxal. De um lado, as chuvas na Ásia e a queda na produção malásia sugerem um ambiente propício a preços mais elevados, o que poderia reforçar a competitividade do Brasil no mercado global. A eventual interrupção das sangrias em países como Tailândia e Indonésia, se prolongada, tende a manter as cotações internacionais sustentadas e a abrir espaço para exportadores alternativos.

Por outro lado, a desaceleração do setor automotivo chinês e a queda das vendas de veículos elétricos representam um alerta. Se o consumo asiático continuar fraco, a sustentação dos preços pode ser limitada, e a volatilidade tende a se intensificar. O produtor brasileiro deve, portanto, monitorar de perto os indicadores de demanda e planejar estrategicamente os volumes de venda, considerando contratos de longo prazo ou mecanismos de hedge para reduzir riscos de mercado.

No âmbito nacional, a manutenção da tarifa de importação de 10,8 % sobre a borracha natural, recentemente prorrogada pela Camex, ajuda a proteger a renda dos produtores e incentiva investimentos em novos seringais. Entretanto, é fundamental avançar na modernização dos sistemas de produção, adotando tecnologias de monitoramento climático, melhores clones e práticas sustentáveis de manejo. O uso de plataformas de rastreabilidade e gestão da produção, como o aplicativo Seringueiro, torna-se diferencial competitivo num mercado cada vez mais exigente quanto a origem e sustentabilidade do produto.

Perspectivas

O mercado de borracha natural em outubro de 2025 evidencia uma dinâmica complexa entre oferta e demanda. A combinação de clima adverso nos principais polos produtores e demanda chinesa em desaceleração pode manter os preços voláteis nos próximos meses. Para os produtores brasileiros, o momento exige visão estratégica: aproveitar as oportunidades abertas pela escassez de oferta na Ásia, mas sem perder de vista os riscos de uma contração no consumo global. Investir em eficiência produtiva, diversificação de mercados e profissionalização da gestão serão chaves para capturar valor neste ambiente de incertezas.