Crise na indústria europeia de pneus abre espaço para marcas asiáticas e oportunidades para o Brasil
Saída de gigantes como Continental, Apollo e Bridgestone da produção europeia cria vácuo que fabricantes asiáticos preenchem. Incerteza regulatória e exigências ESG geram oportunidades para exportadores brasileiros.
A indústria europeia de pneus vive uma tempestade perfeita. O conglomerado alemão Continental AG comunicou que descontinuará todas as linhas de pneus agrícolas (TractorMaster, Tractor70, Tractor85 e outras) até o fim de 2025, a Apollo Tyres planeja encerrar sua unidade holandesa até meados de 2026 e a Bridgestone promove cortes em sua planta na Espanha. O motivo é a commoditização do segmento e margens em declínio, levando os players a realocar capital para produtos de maior valor agregado. Esse êxodo esvazia a capacidade produtiva da Europa e pressiona a oferta interna de pneus.
Aproveitando o vácuo, fabricantes asiáticos vêm conquistando market share com vantagem de custos e sem a sombra de sobretaxas antidumping. Marcas indianas como BKT, Ascenso, Ceat e MRL e chinesas como Tianli, Linglong e Aeolus expandem produção e contratos, atendendo à demanda europeia por pneus agrícolas e industriais. Esses players oferecem produtos competitivos e investem em certificações, buscando legitimidade em mercados exigentes.
Paralelamente, a regulação ambiental da União Europeia adiciona incerteza. O novo Regulamento de Desmatamento (EUDR) ainda não esclareceu se pneus recauchutados serão incluídos; já os pneus usados e resíduos estão formalmente excluídos. A indefinição sobre o status dos retreadados onera pequenas e médias recauchutadoras europeias, que representam a indústria circular do setor. Falhas de controle de exportação no Reino Unido têm permitido o envio ilegal de pneus inteiros para a Índia, suscitando acusações de dumping e riscos reputacionais.
Para a cadeia de valor da borracha natural, o desmantelamento das plantas europeias significa que os fabricantes europeus dependerão ainda mais de importações prontas e de matéria-prima competitiva. Países emergentes com base florestal e alinhamento ESG podem capturar essa demanda. O Brasil, detentor de know‑how agrícola e crescente capacidade de certificação ambiental, tem a chance de suprir parte desse gap. Contudo, cumprir requisitos de rastreabilidade, neutralidade de desmatamento e qualidade industrial será decisivo para acessar contratos premium.
Em síntese, a crise de competitividade na indústria europeia de pneus e o avanço das marcas asiáticas remodelam o cenário global. Para stakeholders brasileiros, a leitura é clara: diversificar mercados, investir em compliance ambiental e acompanhar de perto a agenda regulatória europeia podem transformar uma crise alheia em oportunidade estratégica.
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