Déficit global de borracha natural: ANRPC projeta quinto ano de escassez
Produção global crescerá apenas 0,3 %, enquanto a demanda avança 1,8 %. Veja como o Brasil pode capturar valor da escassez global de borracha natural em 2025.
Panorama mundial do déficit de borracha natural
A Associação de Países Produtores de Borracha Natural (ANRPC) projeta que 2025 marcará o quinto ano consecutivo de déficit no mercado global de borracha natural. A entidade estima que a produção mundial crescerá apenas 0,3 %, totalizando 14,9 milhões de toneladas, enquanto o consumo aumentará 1,8 %, alcançando 15,6 milhões de toneladas. Esse desequilíbrio de 0,7 Mt entre oferta e demanda é impulsionado por vários fatores: preços historicamente baixos nos últimos anos desestimularam o replantio; em países asiáticos, agricultores converteram seringais em culturas mais rentáveis como palma‑de‑óleo e coco; e condições climáticas extremas reduziram a produção em regiões chave da Tailândia, Indonésia e Vietnã.
Embora a produção tailandesa deva crescer 1,2 % em 2025, isso não compensa as quedas de 9,8 % na Indonésia e 1,3 % no Vietnã. A demanda por borracha natural continua a ser puxada principalmente pela indústria automotiva asiática; a China responde por cerca de 40 % do consumo global e deve ampliar suas compras em 2,5 % este ano. Essa combinação de oferta restrita e consumo robusto sustentou os preços globais na faixa de US$ 2/kg desde o final de 2024, mesmo com correções recentes decorrentes de indicadores econômicos fracos na economia chinesa.
Dados mais recentes e perspectivas
As informações divulgadas pela ANRPC e repercutidas pela imprensa indicam que a oferta global permanece estagnada. A produção mundial de 14,9 Mt deve vir principalmente da Ásia, mas tendências estruturais desestimulam a expansão: margem apertada para o produtor, escalada de custos e falta de mão de obra qualificada. Países da África Ocidental têm aumentado a sua participação, mas a escala ainda é insuficiente para equilibrar a oferta. Ao mesmo tempo, especialistas lembram que consumidores e reguladores estão pressionando por matérias‑primas mais sustentáveis, incentivando pesquisa em clones mais produtivos, métodos ecológicos de exploração e processos de rastreabilidade.
Com poucas perspectivas de aumento de plantio nos grandes produtores asiáticos no curto prazo, as previsões de longo prazo sugerem que a demanda continuará superando a oferta até o fim da década, mantendo os preços em patamares remuneradores.
Oportunidades para o produtor brasileiro
A escassez global de borracha natural cria um cenário propício para a heveicultura brasileira. Mesmo representando hoje cerca de 2 % do mercado global, o Brasil possui vantagens competitivas: clima favorável em várias regiões tropicais, disponibilidade de terras e crescente adoção de tecnologias. No curto prazo, os produtores nacionais devem beneficiar‑se de preços firmes no mercado interno. Em São Paulo, responsável por 65 % da produção nacional, os preços do coágulo atingiram R$ 6,65/kg em fevereiro de 2025 — alta de 118 % frente ao ano anterior. Com custo de produção médio em torno de R$ 5/kg, pela primeira vez em anos a rentabilidade voltou a ser positiva. Além disso, o índice de referência de importação criado pelo IEA e pela CNA trouxe mais transparência às negociações e reduziu a assimetria entre produtores e indústria.
No médio prazo, a escassez externa deve incentivar a substituição de importações. Atualmente o Brasil produz apenas cerca de 50 % da borracha natural que consome. Diante de um déficit global persistente, políticas como a manutenção da tarifa de importação, incentivos à expansão de seringais e programas de crédito podem alavancar a participação doméstica. A pressão para o aumento da tarifa, bem como a criação de um Plano Nacional de Fomento da Borracha Natural, já estão em debate no Congresso.
Estratégias recomendadas para capturar valor
- Expandir área plantada e produtividade – Aproveitar o ciclo de preços altos para ampliar ou renovar seringais, priorizando clones de alta produtividade e resistência. Incorporar práticas de manejo sustentável e monitoramento digital para reduzir perdas.
- Investir em sustentabilidade e rastreabilidade – A adoção de sistemas de rastreabilidade e certificações ESG agrega valor ao produto e atende às exigências de grandes compradores. Investimentos em bioinsumos e agroflorestas podem melhorar a resiliência dos seringais e abrir portas para mercados premium.
- Gerenciar riscos de mercado – Apesar de o déficit estrutural favorecer preços altos, a volatilidade de curto prazo persiste. Ferramentas de hedge, contratos de venda futura e uma gestão financeira conservadora ajudam a mitigar oscilações.
- Profissionalizar a mão de obra – A escassez de trabalhadores qualificados impede o aumento da produção. Programas de capacitação, mecanização (como facas elétricas) e boas práticas trabalhistas serão essenciais para sustentar a expansão.
Conclusão
O déficit global de borracha natural não é um fenômeno pontual, mas resultado de mudanças estruturais na oferta e na demanda. As projeções para 2025 apontam para um quinto ano consecutivo de escassez. Para os produtores brasileiros, isso representa uma janela de oportunidade estratégica: com planejamento, tecnologia e foco em sustentabilidade, é possível capturar valor neste ciclo de alta e transformar o Brasil em um player mais relevante no cenário internacional. A hora de investir e profissionalizar a heveicultura é agora.
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