Déficit global e volatilidade marcam o mercado de borracha natural em 2025

Preços de importação no Brasil oscilaram entre R$ 13,21 e R$ 13,70/kg enquanto a produção mundial deve ficar 0,7 Mt abaixo da demanda, apontam ANRPC e CNA.

O mercado internacional de borracha natural entrou em 2025 com um claro desequilíbrio entre oferta e demanda. Segundo a Associação dos Países Produtores de Borracha Natural (ANRPC), a produção global crescerá apenas 0,3%, alcançando 14,9 milhões de toneladas, enquanto o consumo projetado atinge 15,6 milhões de toneladas. Esse gap de 0,7 milhão de toneladas mantém os preços em patamar historicamente elevado — a commodity atingiu o maior valor em 13 anos no final de 2024. O déficit decorre de anos de remuneração insuficiente, que levaram agricultores na Ásia a reduzir replantios e até a substituir seringais por culturas mais rentáveis, como palma e café.

No Brasil, a cadeia acompanha esse cenário com cautela. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) reuniu sua Comissão Nacional de Silvicultura em fevereiro para mapear gargalos e priorizar pautas estratégicas. O presidente Antônio Ginack destacou que, após secas, queimadas, geadas e importações baratas, a valorização da borracha finalmente melhorou a percepção de valor para o produtor nacional. O encontro também tratou da Lei de Bioinsumos, que deve fornecer segurança jurídica no uso de insumos biológicos e moldar o ambiente regulatório, além de iniciativas para excluir a silvicultura do rol de atividades potencialmente poluidoras.

A oscilação dos preços de importação revela o quão volátil é o ambiente. Em abril de 2025, o índice de referência da CNA/IEA recuou 14,2%, com o quilo da borracha natural importada saindo a R$ 13,21, reflexo de queda de 14,7% nos contratos em Cingapura e recuo de 22,4% nos fretes internacionais. Em maio, o quadro virou: o preço subiu 3,7%, chegando a R$ 13,70/kg, impulsionado por aumento de 0,9% na bolsa asiática e salto de 106,7% no frete marítimo. Já em junho, nova queda de 4,8% trouxe o quilo para R$ 13,04, num ambiente de retração de 6,1% nos contratos e dólar a R$ 5,53, com fretes externos ainda elevados devido a tensões geopolíticas. Esses dados mostram um mercado sensível a câmbio, custos logísticos e fundamentos globais.

Para o produtor brasileiro, o cenário exige visão estratégica. O déficit global sinaliza oportunidade de captura de valor no médio prazo, mas a volatilidade cambial e a escalada dos fretes podem corroer margens. A ordem do dia é hedgear preços, investir em produtividade e adotar tecnologias de gestão — da previsão climática à rastreabilidade — para reduzir riscos e ganhar competitividade. Em paralelo, é imperativo acompanhar a agenda regulatória, como a Lei de Bioinsumos, e fortalecer a governança ambiental para atender clientes globais cada vez mais exigentes. A borracha natural voltou aos holofotes; cabe ao setor se posicionar de forma proativa e disruptiva.