EUDR — O novo regulamento de desmatamento da União Europeia e seus reflexos na cadeia da borracha natural no Brasil

Entenda o que é o EUDR, por que ele inclui a borracha natural e como o regulamento pode influenciar produtores, importadores e indústrias de pneus no Brasil.

EUDR — O novo regulamento de desmatamento da União Europeia e seus reflexos na cadeia da borracha natural no Brasil
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1. O que é o EUDR?

European Union Deforestation Regulation (EUDR) é o Regulamento (EU) 2023/1115 que proíbe a entrada no mercado europeu de sete commodities associadas a desmatamento ou degradação florestal – entre elas a borracha natural. A norma entrou em vigor em 29 de junho de 2023 e passa a ser aplicável em 30 de dezembro de 2025 para médias e grandes empresas; micro e pequenas terão até 30 de junho de 2026 para se adequar Green ForumEnvironment.

Principais requisitos:

  • Geolocalização de todas as áreas produtoras (polígono ou ponto-centro).
  • Due diligence demonstrando “zero desmatamento” após 31 de dezembro de 2020.
  • Risco-país classificado pela Comissão Europeia (benchmarking).

Penalidades por não conformidade incluem multas de até 4 % do faturamento anual global e embargo de carga Anthesis.


2. Por que a borracha natural foi incluída?

O consumo europeu responde por ~10 % do mercado mundial de borracha e boa parte é destinada à indústria automotiva. Estudos da Comissão apontam conversão florestal significativa em países tropicais ligados ao cultivo de Hevea brasiliensis – especialmente no Sudeste Asiático – justificando a inserção da commodity no regulamento Environment.


3. Panorama da borracha natural no Brasil — país importador, não exportador

Indicador (2023)Valor
Produção nacional416 mil t (IBGE)
Consumo interno estimado~700 mil t
Déficit suprido por importações~60 % do consumo ANRPC - 2023
Valor importado de borracha naturalUS$ 271 mi – principais origens: Tailândia, Indonésia, Costa do Marfim, Malásia, Vietnã The Observatory of Economic Complexity
Exportações brasileiras de borracha< US$ 11 mi (0,003 % das exportações totais) Solução de Comércio do Banco Mundial

Além do látex a granel, o Brasil importou 125 mil t de borracha contida em pneus entre 2017 e 2023 (+124 %) valorinternational.


4. Se não exportamos borracha para a UE, por que o EUDR importa?

  1. Efeito cascata na indústria de pneus
    • Pneumáticos fabricados no Brasil que usem borracha estrangeira podem ser exportados para a Europa. As montadoras exigirão rastreabilidade total da matéria-prima, pressionando fornecedores locais.
  2. Competitividade de preço
    • Plantios brasileiros que comprovem “borracha livre de desmatamento” podem capturar prêmio de mercadoquando compradores globais segmentarem cadeias “verdes”.
  3. Financiamento e crédito
    • Bancos europeus e multilaterais já sinalizam condição de EUDR-compliance para liberar capital de giro a processadoras de borracha em todo o mundo.
  4. Risco regulatório interno
    • A UE poderá classificar países em baixo, padrão ou alto risco. Caso o Brasil receba rótulo “alto risco” para soja ou carne, pode haver transbordamento reputacional para a borracha, elevando barreiras indiretas.
  5. Adoção de boas práticas ESG
    • Multinacionais instaladas no país tendem a uniformizar políticas globais. Isso significa que auditorias de geolocalização chegarão também às fazendas brasileiras, mesmo que a borracha nunca atravesse o Atlântico.

5. O que muda na prática para os elos da cadeia

EloExigência-chavePasso inicial recomendado
ProdutorMapear cada talhão com coordenadas e manter histórico de uso do soloLevantamento geoespacial (drone/satélite) e cadastro em plataforma de rastreabilidade
ProcessadorSegregar lotes EUDR-compliantSistema ERP com loteamento por origem
Importador de borrachaExigir declarações de due diligenceRevisão de contratos de fornecimento
Fabricante de pneusProvar conformidade até o composto finalIntegração de dados de fornecedores em dashboards ESG

Ferramentas digitais de rastreabilidade por GPS, como as já disponíveis no app Seringueiro, reduzem fricção no fluxo de informações e garantem cadeia auditável de ponta a ponta.


6. Oportunidades estratégicas para o setor brasileiro

  • Certificação voluntária antecipada – produtores e cooperativas que se anteciparem podem virar fornecedores preferenciais em acordos globais.
  • Integração floresta-agricultura – sistemas agroflorestais de seringueira ajudam a provar “desmatamento zero” e capturam créditos de carbono.
  • Diferenciação de mercado interno – montadoras locais podem remunerar com ágio a borracha de origem validada para conservar natural capital.
  • Inovação em dados – soluções como o Painel Aberto já agregam cotações, índices climáticos e notícias setoriais num feed único, oferecendo inteligência contínua ao produtor.

7. Recomendações imediatas

  1. Audite sua origem – valide se o cultivo foi aberto antes de 31/12/2020.
  2. Digitalize contratos – cláusulas de compliance devem prever fornecimento de coordenadas e autorizar uso de dados.
  3. Implemente georreferenciamento – apps móveis com registro offline garantem precisão em campo, mesmo sem sinal.
  4. Monitore atualizações – o Painel Aberto publica briefs regulatórios semanais; ative as notificações no app Seringueiro para alertas gratuitos em tempo real.
  5. Capacite tappers e gerentes – treinamento sobre coleta de evidências fotográficas e chain-of-custody.

8. Conclusão

Ainda que o Brasil seja importador líquido de borracha, a lógica de mercado é global: quem vende pneus ao bloco europeu precisará de matéria-prima rastreável. Ignorar o EUDR significa aceitar margem menor, acesso restrito a crédito e, no limite, perda de competitividade.

Produtores que adotarem desde já protocolos de rastreabilidade baseados em geolocalização – recursos já embarcados no aplicativo Seringueiro – estarão um passo à frente quando a exigência bater à porta. Para acompanhar cotações, guias práticos e alertas regulatórios, mantenha o Painel Aberto no seu radar diário.

Conteúdo produzido com base em dados oficiais da Comissão Europeia, Banco Mundial, IBGE e análises de mercado publicadas até maio de 2025.