Fábrica bilionária de pneus de alta performance no Paraná impulsiona a borracha natural brasileira

Paraná atrai gigante dos pneus com projeto bilionário

O Paraná deu mais um passo para se consolidar como polo automotivo nacional ao receber, em 4 de junho de 2025, a confirmação de um investimento bilionário na indústria de pneus. Em reunião no Palácio Iguaçu com o governador Carlos Massa Ratinho Junior, executivos da brasileira XBRI Pneus e da chinesa Linglong Tire anunciaram a construção de uma planta de última geração em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. O aporte inicial de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões) será bancado pelas duas empresas e destina‑se à instalação de uma fábrica destinada a produzir pneus automotivos de alto desempenho.

O terreno de 1,4 milhão m² escolhido para o projeto foi concebido como um cluster industrial. Além da fábrica principal, ele prevê áreas para empresas satélites que fornecerão matérias‑primas e serviços à nova unidade. O governo estadual estruturou um protocolo de intenções dentro do programa Paraná Competitivo, que concede incentivos fiscais e apoio logístico à iniciativa. A expectativa é que, além do aporte inicial, outros R$ 4 bilhões sejam investidos na implantação dessas empresas de apoio, gerando receitas superiores a US$ 4 bilhões (R$ 22,5 bilhões) ao longo do ciclo de maturação.

Cronograma agressivo e capacidade instalada robusta

Com obras previstas para começar em setembro de 2025, a fábrica deve iniciar operações no primeiro semestre de 2027, quando passará a produzir pneus de última geração para automóveis de passeio, utilitários e, futuramente, veículos elétricos. A capacidade inicial será de cerca de 15 milhões de pneus/ano, podendo aumentar conforme a expansão de mercado. Na fase inaugural, a planta empregará 1,3 mil trabalhadores; em plena operação, a estimativa é de 3,5 mil empregos diretos. Esses números refletem uma alavancagem significativa na economia local, com impactos multiplicadores em setores como construção, serviços logísticos e fornecimento de matérias‑primas.

Oportunidades para a cadeia da borracha natural

A indústria de pneus consome cerca de 70% da produção mundial de borracha natural, e a instalação de uma fábrica com capacidade de dezenas de milhões de unidades por ano tende a incrementar a demanda por látex de qualidade. O projeto de Ponta Grossa inclui a criação de um parque de fornecedores para viabilizar o abastecimento de matérias‑primas, o que representa uma oportunidade ímpar para seringueiros, heveicultores e empresas de processamento. Esses atores terão a chance de integrar‑se a uma cadeia de valor global, fornecendo borracha natural com rastreabilidade e padrões técnicos compatíveis com pneus de alta performance. A adoção de práticas sustentáveis e de tecnologias de gestão agrícola e de produção, como monitoramento de florestas, contratos digitais e sistemas de previsão climática, será fundamental para atender aos requisitos da Linglong e da XBRI.

O governo estadual estima que o parque industrial trará receitas adicionais de R$ 22,5 bilhões ao incorporar fornecedores de matéria‑prima. Para os produtores de borracha, esse cenário exigirá planejamento para aumentar a produtividade por hectare, aprimorar processos de beneficiamento e cumprir padrões de sustentabilidade. A concorrência com borracha importada, especialmente de países asiáticos, reforça a necessidade de competitividade da borracha brasileira.

Parceria estratégica entre XBRI e Linglong

A Linglong Tire é reconhecida como a maior fabricante de pneus da China e líder mundial na produção de pneus para veículos elétricos. A companhia possui sete plantas no território chinês e cinco no exterior, fornecendo pneus para oito das dez maiores montadoras do planeta, como BMW, Audi, Volkswagen e Renault. A fábrica paranaense será a primeira da empresa na América do Sul, evidenciando a confiança da multinacional no ambiente de negócios brasileiro.

Já a XBRI Pneus, controlada por investidores chineses, opera como marca brasileira com forte presença no mercado de pneus de reposição. A joint venture com a Linglong marca a entrada da XBRI na indústria fabril, permitindo que a companhia combine expertise comercial local com know‑how tecnológico de seu parceiro asiático. Essa sinergia deve resultar em produtos com alto valor agregado e competitivos nos mercados doméstico e latino‑americano.

Governança e vantagens competitivas do Paraná

Para o governador Carlos Massa Ratinho Junior, o investimento da Linglong e da XBRI reforça a competitividade do Paraná. Em declaração oficial, Ratinho destacou que o Estado é referência nacional em pesquisa, ciência e inovação, possui logística de qualidade e está próximo dos principais mercados consumidores do Sul e Sudeste, o que o coloca no centro de 70% do PIB da América do Sul. O diretor‑presidente da Invest Paraná, Eduardo Bekin, enfatizou que a agência participou de todas as negociações e continuará a apoiar a ampliação do complexo industrial.

O presidente da Linglong, Wang Feng, ressaltou que o Brasil sempre foi o destino prioritário da empresa em sua estratégia de internacionalização, graças ao tamanho do mercado e à mão de obra qualificada. Segundo ele, o Paraná foi escolhido por ser um estado competitivo, com vantagens logísticas e profissionais especializados. Já o presidente da XBRI, Nabil Chamseddine, destacou o apoio governamental e a localização estratégica do Paraná como fatores determinantes para a parceria. Essas declarações apontam para um ambiente de negócios favorável, em que políticas de atração de investimentos se alinham aos interesses da indústria.

Impulso estratégico para a borracha natural brasileira

Para os produtores brasileiros de borracha natural, a instalação da fábrica de pneus em Ponta Grossa representa um divisor de águas. Além de ampliar a demanda interna, o empreendimento estimula o desenvolvimento de uma cadeia produtiva integrada, capaz de gerar emprego e renda no campo. Entretanto, para capturar esses benefícios, será necessário profissionalizar a gestão das seringais, investir em tecnologia, cumprir padrões de sustentabilidade e estabelecer relações contratuais sólidas com as indústrias.

O parque industrial proposto pelas empresas projeta‑se como um hub de inovação, no qual produtores, processadores e a indústria final trabalharão em sinergia. Diante da crescente pressão por produtos mais sustentáveis e rastreáveis, os heveicultores que adotarem práticas ambientais e de governança (ESG) estarão melhor posicionados para atender às exigências da fábrica. O uso de aplicativos de gestão, como plataformas de acompanhamento da produção e contratos digitais, será um diferencial competitivo.

Conclusão

O investimento bilionário de Linglong Tire e XBRI Pneus no Paraná reforça o status do Estado como player estratégico na cadeia automotiva brasileira e cria um ambiente propício para a valorização da borracha natural nacional. Ao unir tecnologia chinesa, know‑how brasileiro e políticas estaduais de incentivo, o projeto oferece aos heveicultores uma oportunidade histórica de integração em uma cadeia global de alto valor. Cabe aos produtores preparar‑se, elevar padrões de qualidade e adotar práticas sustentáveis para que a borracha brasileira siga sendo um ativo competitivo diante das exigências dos mercados nacional e internacional.