Indústria europeia de pneus cobra clareza sobre EUDR: impacto na cadeia da borracha natural e oportunidades para o Brasil

Regulamento europeu EUDR exige cadeias livres de desmatamento. Carta de indústrias de pneus pede cronograma claro e orientações, impactando a cadeia da borracha natural no Brasil.

Indústria europeia de pneus cobra clareza sobre EUDR: impacto na cadeia da borracha natural e oportunidades para o Brasil
Photo by Alexey Larionov / Unsplash

Em 28 de julho de 2025, um grupo de entidades que representa setores essenciais — alimento, ração animal, florestal, químicos, editorial, bens de consumo e pneus — enviou uma carta conjunta à comissária europeia responsável pelo combate ao desmatamento. O documento, assinado pela European Tyre and Rubber Manufacturers’ Association (ETRMA) e outras associações, reconhece o esforço das empresas para se adequarem ao Regulamento Europeu sobre Produtos Livres de Desmatamento (EUDR) e alerta que rumores de alterações ou adiamentos estão causando insegurança jurídica e travando investimentos na cadeia da borracha natural.

O que é a EUDR: requisitos e prazos

O EUDR (Regulamento UE 2023/1115) entrou em vigor em 29 de junho de 2023 e abrange commodities ligadas ao desmatamento, incluindo madeira, cacau, café, palma, soja, bovinos e borracha natural. Em dezembro de 2024 o Parlamento Europeu aprovou a extensão do prazo de aplicação: grandes e médias empresas deverão cumprir a partir de 30 de dezembro de 2025, enquanto micro e pequenas terão até 30 de junho de 2026.

Para comercializar produtos no mercado europeu, operadores e comerciantes precisam comprovar:

  • que a mercadoria é livre de desmatamento — não derivada de áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020;
  • que respeita a legislação do país de origem;
  • que está coberta por uma declaração de due diligence.

O sistema de due diligence exige coleta de dados sobre fornecedores, geolocalização de todas as parcelas onde a commodity foi produzida, análise de risco e implementação de medidas de mitigação.

Reivindicações da indústria europeia

Na carta enviada em 28 de julho de 2025, as associações europeias pedem que a Comissão Europeia:

  • publique um cronograma definitivo de regulamentação, esclarecendo se há alterações em estudo;
  • disponibilize orientações práticas que permitam avançar com auditorias e sistemas de rastreabilidade;
  • garanta aplicação uniforme do regulamento em todos os 27 países, evitando interpretações divergentes.

Segundo as signatárias, a falta de diretrizes claras pode comprometer investimentos e gerar interrupções em cadeias críticas como alimentos, higiene, químicos, pneus e materiais de construção.

Impacto para a cadeia de borracha natural no Brasil

O Brasil ainda importa grande parte da borracha consumida internamente e exporta volumes modestos para a Europa. No entanto, montadoras e fabricantes de pneus com operações globais exigirão insumos rastreáveis e livres de desmatamento. A insegurança regulatória na UE afeta contratos de fornecimento e preços no mercado internacional, pois compradores adiam decisões até ter segurança jurídica. Para os produtores brasileiros, a ausência de clareza pode significar perda de oportunidades, mas também abre espaço para se diferenciar oferecendo borracha com rastreabilidade, sustentabilidade e conformidade.

Recomendações e oportunidades para produtores

Para antecipar se à EUDR e melhorar o posicionamento no mercado, os produtores e agentes da cadeia podem:

  • Investir em georreferenciamento de áreas de cultivo, monitoramento de uso do solo, contratos digitais e documentação de práticas sustentáveis, elevando o poder de negociação;
  • Utilizar aplicativos como o Seringueiro para registrar operações de campo, coletar coordenadas, gerar relatórios e criar transparência sobre as origens da produção;
  • Adotar sistemas de produção eficientes e alinhar se à Política Nacional de Fomento da Borracha Natural, ao RenovaBor e a programas de certificação voluntária, que exigem rastreabilidade e preservação ambiental;
  • Diversificar receitas por meio de sistemas agroflorestais, venda de madeira de seringueira ao final do ciclo e participação em mercados de créditos de carbono, fortalecendo a resiliência econômica frente às oscilações globais;
  • Estabelecer parcerias com cooperativas, processadoras e compradores internacionais para viabilizar investimentos em infraestrutura de rastreabilidade e garantir acesso a mercados exigentes.

Conclusão

A carta liderada pela ETRMA evidencia que a implementação da EUDR ainda enfrenta desafios políticos e operacionais, mas também sinaliza uma oportunidade para posicionar a cadeia da borracha natural brasileira como referência em sustentabilidade, transparência e conformidade. Manter se atualizado sobre as orientações da UE, investir em tecnologia de rastreabilidade e cultivar boas práticas socioambientais reduzirá riscos e ampliará acesso a mercados cada vez mais exigentes.