Plano Safra 2025/2026: recursos recordes, juros ajustados e oportunidades para a heveicultura

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apresentou o Plano Safra 2025/2026 destinando R$ 516,2 bilhões para a agricultura empresarial — 1,5 % mais que a safra anterior. Desse total, R$ 414,7 bilhões devem ser usados para operações de custeio e comercialização, enquanto R$ 101,5 bilhões se destinam a investimentos.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que vai disponibilizar R$ 70 bilhões em linhas de financiamento. Desse montante, R$ 39,7 bilhões poderão ser acessados por meio dos programas agropecuários do governo federal e R$ 30,3 bilhões virão de recursos próprios. Entre os recursos equalizáveis, R$ 26,3 bilhões atendem à agricultura empresarial (médios e grandes produtores) com taxas de 8,5 % a 14 ao ano, enquanto R$ 13,4 bilhões destinam-se à agricultura familiar, com juros de 0,5 % a 8 % ao ano.
Ajuste das taxas de juros
As condições de financiamento foram revisadas por causa do cenário macroeconômico. A taxa Selic próxima de 15 % levou o governo a elevar as taxas das principais linhas. Entre as mudanças confirmadas em documentos oficiais:
- Pronamp (médios produtores): de 8 % para 10 % ao ano.
- RenovAgro e PCA: de 8,5 % para 10 %.
- PCA até 12 mil toneladas: de 7 % para 8,5 %.
- Custeio empresarial: de 12 % para 14 %.
- Moderfrota: de 11,5 % para 13,5 %.
- RenovAgro Ambiental/Recuperação de Pastagens: de 7 % para 8,5 %.
- Proirriga e investimento empresarial: de 10,5 % para 12,5 %.
- Prodecoop/Procap-Agro: de 11,5 % para 13,5 %.
- Moderfrota Pronamp: de 10,5 % para 12,5 %.
Para incentivar práticas sustentáveis, permanece um desconto de 0,5 ponto percentual nas operações de custeio para produtores que adotarem técnicas de agricultura de baixo carbono.
Condicionalidades ambientais e ZARC obrigatório
O Plano Safra reforça as condicionantes ambientais. O uso do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) — ferramenta que indica as melhores épocas e regiões para plantio — passa a ser obrigatório para financiamentos de custeio acima de R$ 200 mil. Na safra anterior, essa exigência valia apenas para pequenos agricultores que utilizavam o Proagro. O objetivo é reduzir perdas por eventos climáticos e evitar a concessão de crédito fora de épocas ou áreas apropriadas.
Além disso, produtores que investirem em agricultura de baixo carbono, recuperação de áreas degradadas e uso racional de recursos naturais terão juros menores e acesso facilitado ao crédito. O RenovAgro foi ampliado para financiar recuperação de áreas de preservação permanente e reserva legal, prevenção e combate a incêndios florestais, reflorestamento com mudas de essências nativas e aquisição de caminhões-pipa.
Linhas de crédito relevantes para a heveicultura
Embora o Plano Safra 2025/2026 não ofereça uma linha exclusiva para a cultura da seringueira, diversas linhas gerais podem beneficiar a heveicultura:
- Pronamp: custeio e investimento para médios produtores com juros de 10 % ao ano.
- RenovAgro: financia práticas sustentáveis, como recuperação de áreas de preservação permanente, conversão de pastagens degradadas e prevenção de incêndios; taxas entre 8,5 % e 10 % ao ano.
- PCA (Programa para Construção de Armazéns): financia construção ou ampliação de armazéns; juros de 8,5 % para projetos até 12 mil toneladas e 10 % para capacidade maior.
- Inovagro: recursos para aquisição de tecnologias, máquinas e equipamentos; juros de 12,5 % ao ano.
- Proirriga: incentiva sistemas de irrigação e fertirrigação; juros de 12,5 % ao ano.
- Prodecoop/Procap-Agro: linhas para cooperativas; juros de 13,5 % ao ano.
- Moderfrota: financia tratores e colheitadeiras; juros de 13,5 %, ou 12,5 % para produtores do Pronamp.
Digitalização e acesso ao crédito
O governo e as instituições financeiras têm investido em canais digitais para agilizar a apresentação de propostas e o acompanhamento do crédito. Essa via rápida digital reduz deslocamentos e burocracia, mas não substitui a necessidade de análise de risco e de conformidade ambiental.
Impactos nos investimentos em capital
Com a elevação dos juros, produtores de borracha natural precisam revisar o planejamento de investimentos em capital. Modernizar o cultivo (irrigação, mecanização e adoção de tecnologias de corte) e ampliar a capacidade de armazenamento são exemplos de projetos que podem melhorar a produtividade e permitir acesso a linhas de crédito com taxas mais baixas.
Posicionamento estratégico para heveicultores
Para aproveitar as oportunidades do Plano Safra 2025/2026:
- Conformidade ambiental: regularize o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e cumpra o Código Florestal antes de solicitar crédito.
- Planejamento climático: consulte o ZARC da cultura da seringueira no município e adeque as datas de plantio e manejo.
- Canais digitais: utilize as plataformas eletrônicas de cooperativas e bancos públicos para pré-aprovação de crédito com maior agilidade.
- Investimentos prioritários: priorize mecanização, irrigação e práticas sustentáveis (RenovAgro, PCA e Proirriga).
- Diversificação de fontes: combine recursos do BNDES, cooperativas de crédito e fundos regionais para reduzir o custo médio do financiamento.
- Acompanhamento regulatório: participe das discussões sobre a Política Nacional de Fomento da Borracha Natural e se alinhe às entidades de classe.
Conclusão
Plano Safra 2025/2026 traz recursos inéditos para o setor e amplia o papel do crédito rural como instrumento de política pública. Ao mesmo tempo, impõe juros mais altos e um conjunto robusto de exigências socioambientais. Para os produtores de borracha natural, a ausência de uma linha específica exige planejamento e uso estratégico das linhas gerais de financiamento. Cumprir as exigências de sustentabilidade e risco climático deixou de ser um diferencial: tornou-se uma condição indispensável para acessar crédito rural.
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