Safra 2024/2025 em São Paulo: produção recorde, desafios climáticos e oportunidades para o heveicultor

Safra 2024/2025 em São Paulo: produção recorde, desafios climáticos e oportunidades para o heveicultor

A safra 2024/2025 de borracha natural em São Paulo promete ser histórica. Projeções do Instituto de Economia Agrícola (IEA) e da Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (APABOR) indicam um volume de 266 mil toneladas, o que representa 8,8 % a mais do que a temporada anterior e cerca de 65 % da produção nacional. Aproximadamente 70 % dessa colheita ocorre entre março e agosto, aproveitando o período de maior fluxo de látex. A expectativa é que a produção recorde consolide a liderança do estado no mercado brasileiro.

No entanto, essa euforia precisa ser calibrada com realismo. A mesma análise do IEA e da APABOR alerta para riscos capazes de reduzir a safra em até 20 %, como a escassez de mão de obra para sangria, o avanço de incêndios em seringais e as variações climáticas. Já em março e abril de 2025, muitos produtores observaram produtividade abaixo do esperado, evidenciando que a evolução das árvores e a disponibilidade de sangradores são determinantes para alcançar os volumes projetados. Também existe a preocupação de que o ano seja mais seco, aumentando a vulnerabilidade a queimadas.

Rentabilidade e cenário global

Apesar dos riscos, o momento atual é altamente favorável ao produtor paulista. O preço médio da borracha coagulada no estado alcançou R$ 6,65/kg no início de agosto de 2025, acumulando alta de 118 % em relação ao valor de 2024. Essa valorização resulta da conjunção de demanda consistente e oferta limitada. Segundo a Associação dos Países Produtores de Borracha Natural (ANRPC), a produção global deve crescer apenas 0,3 % em 2025, alcançando 14,9 milhões de toneladas, enquanto o consumo avançará 1,8 %, para 15,6 milhões de toneladas. Países como Indonésia e Vietnã devem reduzir a oferta em 9,8 % e 1,3 %, respectivamente, por problemas climáticos e baixos investimentos. Esse desequilíbrio mantém os preços internacionais sustentados, mesmo com sinais de desaceleração econômica na China e quedas temporárias nas cotações dos futuros.

A visão global reforça a importância da sustentabilidade da produção paulista. A crescente adoção de políticas ambientais rígidas, como o Regulamento da União Europeia contra o Desmatamento, e a expansão de mercados como Costa do Marfim, que elevou suas exportações em 14,3 % no acumulado de 2025, pressionam pela rastreabilidade e pela competitividade de quem atua no Brasil. Ao mesmo tempo, as importações de borracha pelo Brasil continuam elevadas para atender a indústria automobilística, e a projeção de déficit global sugere que os preços permanecerão remuneradores ao longo de 2025.

Principais desafios operacionais

Além das incertezas climáticas, os produtores enfrentam desafios estruturais que exigem planejamento estratégico. A escassez de mão de obra qualificada para a sangria tem se agravado, elevando os custos e levando alguns heveicultores a adiar o replantio. Aumentar a produtividade por hectare, por meio de clones de alto rendimento e manejo adequado, torna‑se imperativo.

O risco de incêndios em áreas de cultivo é outro fator crítico. Em 2024, diversos focos de fogo consumiram plantios no Noroeste Paulista e na região de São José do Rio Preto, reduzindo a oferta e gerando perdas financeiras expressivas. Investir em ações preventivas, como aceiros, sistemas de monitoramento e brigadas comunitárias, é essencial para mitigar esse risco.

A volatilidade do clima também impacta a produção. Anos de seca severa diminuem o fluxo de látex, enquanto períodos com chuvas excessivas podem dificultar a colheita e aumentar a incidência de doenças. A adoção de tecnologias de previsão climática e planejamento agrícola permite ajustar calendários de sangria e insumos, garantindo maior regularidade na produção.

Oportunidades e recomendações estratégicas

  1. Inovação e digitalização: Aplicativos de gestão de seringais, como o Seringueiro, permitem registrar operações, rastrear a produção por geolocalização e emitir contratos digitais. Essas ferramentas facilitam a conformidade com normas ambientais e aumentam a confiança dos compradores.
  2. Diversificação de receitas: A alta valorização da borracha cria margem para o produtor investir em alternativas de renda, como a venda de créditos de carbono e a exploração de bioinsumos. Adotar práticas conservacionistas, como sistemas agroflorestais, pode gerar benefícios econômicos e de imagem.
  3. Hedge e comercialização antecipada: Diante de um mercado global volátil, o produtor deve considerar instrumentos de proteção de preço, como contratos futuros e operações a termo. Travar parte da safra pode assegurar margens e reduzir a exposição a eventuais quedas de preços.
  4. Capacitação de mão de obra: Programas de capacitação e incentivos à permanência de sangradores são fundamentais para garantir a execução das atividades. A modernização dos sistemas de colheita, com uso de ferramentas mais ergonômicas e pagamentos mais atrativos, ajuda a fidelizar profissionais.
  5. Relacionamento com a indústria: O déficit global estimado e a estratégia de transição para fontes renováveis na indústria automotiva abrem espaço para contratos de longo prazo com pneus e fabricantes que buscam fornecedores sustentáveis. Negociar parcerias diretas aumenta a previsibilidade de receita e fortalece a cadeia.

Conclusão

A safra paulista de 2024/2025 representa um marco na heveicultura brasileira. O volume projetado de 266 mil toneladas, aliado a preços historicamente altos, posiciona o produtor em um cenário de rentabilidade excepcional. Entretanto, a concretização desse potencial depende de uma gestão profissional, capaz de mitigar riscos climáticos, superar a escassez de mão de obra e incorporar tecnologias que garantam rastreabilidade e eficiência.

Ao olhar além dos campos, é indispensável acompanhar o contexto internacional: a oferta global restrita, o crescimento da demanda em países emergentes e a intensificação das exigências ambientais. Aproveitar as oportunidades e proteger -se contra os riscos exigirá disciplina de capital, planejamento tributário e comprometimento com a sustentabilidade. Com estratégia, inovação e foco na qualidade, o heveicultor paulista está no caminho para transformar a safra recorde em ganhos duradouros e consolidar sua liderança no mercado global de borracha natural.