Seringais no mercado de carbono: oportunidades na Política Nacional da Borracha Natural
Entenda o potencial de sequestro de carbono dos seringais e como a Política Nacional de Fomento da Borracha Natural pode integrar a heveicultura ao mercado de créditos de carbono.

Introdução
A Política Nacional de Fomento da Borracha Natural (PNFBN) foi anunciada pelo governo federal em 2025 e encontra-se em fase de elaboração de decreto. A proposta busca integrar produtores, cooperativas e consumidores, aumentar a transparência da produção e do consumo de borracha natural e incentivar o manejo sustentável das seringueiras. Um dos temas em destaque é a possibilidade de incluir os seringais no mercado de carbono, remunerando o serviço ambiental de sequestro de carbono e estimulando a restauração de áreas degradadas.
O potencial dos seringais em sequestrar carbono
As heveícolas são árvores de crescimento moderado, com produtividade de madeira de 7 a 12 m³ por hectare ao ano – bem acima da média de florestas naturais e próxima de outras culturas comerciais. Uma tonelada de borracha seca contém aproximadamente 880–900 kg de carbono, e cada tonelada de carbono corresponde a 3,67 toneladas de CO₂ equivalente. Considerando o ciclo de cultivo e a substituição da borracha sintética, estudos da Embrapa estimam que um hectare de seringal pode corresponder a cerca de 1 019 t CO₂eq ao longo de 33 anos. Há estimativas mais antigas que apontam até 1 109 t CO₂eq em 30 anos, mas esses números não refletem as metodologias atuais e devem ser contextualizados.
Os seringais também acumulam carbono no solo; pesquisas apontam aproximadamente 23 t de carbono por hectare na camada de 0–60 cm. Esses valores são superiores aos de muitas culturas agrícolas e comparáveis a alguns plantios florestais. Esse potencial reforça a importância de criar metodologias específicas para quantificar o crédito de carbono na heveicultura.
Como funciona o mercado de carbono
Crédito de carbono é um ativo ambiental que representa a remoção ou redução de 1 t CO₂eq. Há dois grandes segmentos:
- Mercado voluntário, em que empresas ou indivíduos compram créditos para compensar emissões por iniciativa própria. Projetos são certificados por padrões internacionais (Verra, Gold Standard etc.).
- Mercado regulado, criado por lei e obrigatório para determinados setores. No Brasil, a Lei 15.042/2024 instituiu o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões. Até julho de 2025 o governo trabalha no plano de implementação e nas normas para cada setor. Enquanto as regras não são detalhadas, os projetos de seringais dependem do mercado voluntário, e ainda não existe uma metodologia específica para heveicultura. Por isso, é essencial seguir as melhores práticas de medição, reporte e verificação (MRV) e registrar créditos em plataformas digitais reconhecidas.
Ideias para conectar o setor de borracha ao mercado de carbono
- Organizar produtores e cooperativas para estruturar projetos e negociar coletivamente a venda de créditos, reduzindo custos de certificação.
- Reconhecer o sequestro de carbono como serviço ambiental e remunerar os produtores ao combinar a venda da borracha com créditos de carbono.
- Estabelecer políticas e incentivos específicos – por exemplo, um programa nacional nos moldes do RenovaBio (apelidado de “RenovaBor”) – para premiar a sustentabilidade da borracha natural.
- Aprimorar a governança com plataformas digitais e registros públicos, incluindo blockchain ou tokenização, para garantir transparência e rastreabilidade de créditos.
- Promover sistemas agroflorestais e recuperação de pastagens degradadas. Plantar seringais em áreas degradadas ou integrá-los com outras espécies aumenta o estoque de carbono e a biodiversidade. Esses projetos tendem a ter maior aceitação em padrões internacionais porque oferecem co‑benefícios ambientais e sociais.
Conclusão
Os seringais brasileiros têm alto potencial de sequestro de carbono e podem gerar receitas adicionais via créditos. A PNFBN reconhece a importância dessa oportunidade, mas ainda não traz o “como”: faltam métricas, padrões e mecanismos de comercialização claros para a heveicultura. Embora o Brasil já tenha aprovado o marco legal do mercado de carbono (Lei 15.042/2024), o governo ainda elabora o plano de implementação e as normas específicas para cada setor. Nesse contexto, é fundamental que produtores, cooperativas e entidades de classe se engajem no debate, contribuam com sugestões e busquem capacitação em projetos de carbono.
A integração dos seringais ao mercado de carbono pode transformar a heveicultura em um negócio verde competitivo, gerando renda, restaurando áreas degradadas e fortalecendo a soberania do país na produção de borracha natural. No entanto, essa transição exigirá governança robusta, suporte técnico e engajamento do setor privado para que o crédito de carbono se torne uma realidade viável para os produtores.
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