Tailândia e Camboja assinam cessar fogo

Contexto da escalada

Tailândia e Camboja mantêm uma fronteira terrestre de 817 km delimitada no período colonial. A região abriga o templo medieval de Preah Vihear e outras áreas cuja soberania é reivindicada pelos dois países. A tensão atual começou em maio de 2025, quando um soldado cambojano foi morto numa troca de tiros. Nos dias seguintes, ambos os exércitos reforçaram tropas e retomaram posições na fronteira. Segundo a Euronews, em julho o embaixador do Camboja na ONU apelou a um cessar‑fogo “imediato e incondicional”, relatando que pelo menos 30 pessoas haviam morrido e milhares haviam abandonado as suas casas. Na semana seguinte, o governo tailandês acusou o Camboja de crimes de guerra e de utilizar artilharia pesada; a ONU pediu moderação e uma solução pacífica.

O acordo de cessar‑fogo

Após cinco dias de combates intensos, mediado pelo primeiro‑ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, os líderes cambojano e tailandês reuniram‑se em Putrajaya (Malásia) e anunciaram um acordo de cessar‑fogo imediato e incondicional a partir da meia‑noite de 28 de julho de 2025. O acordo prevê o fim das hostilidades, a retomada das comunicações diretas e foi descrito por Anwar como “definitivo”. A Reuters informou que líderes de ambos os países agradeceram a mediação e declararam que cumprirão o pacto de boa fé. Antes do anúncio, o presidente dos EUA, Donald Trump, telefonou a Hun Manet (Camboja) e Phumtham Wechayachai (Tailândia), ameaçando suspender acordos comerciais caso a luta continuasse.

A decisão encerrou a escalada que já havia deixado ao menos 35 mortos e cerca de 200 mil deslocados. Além de bombardeios de artilharia e ataques aéreos, a Tailândia chegou a fechar todos os postos fronteiriços, permitindo apenas o retorno de trabalhadores cambojanos ao seu país. O contexto histórico também pesa: o templo Preah Vihear foi concedido ao Camboja pela Corte Internacional de Justiça em 1962, mas o acesso se dá pelo lado tailandês, o que mantém o litígio aberto.

Mercado da borracha natural antes do conflito

A Tailândia responde por cerca de um terço da produção mundial de borracha natural e é referência para a formação de preços globais. Em 2024, secas e inundações reduziram a oferta mundial para cerca de 14,5 milhões de toneladas, enquanto a demanda chegou a 15,7 milhões de toneladas, elevando os preços a níveis recordes; os contratos futuros em Osaka atingiram ¥419,7/kg em outubro de 2024. No início de 2025, condições climáticas mais favoráveis e uma leve desaceleração da demanda permitiram alguma recomposição de estoques e uma correção de preços, mas o mercado continuava sensível a choques.

Como o conflito afetou as expectativas de preço

Durante os combates de julho, os mercados financeiros reagiram com cautela. Em 27 de julho de 2025, o portal Vietnam.vn informou que os preços da borracha natural na bolsa de Tóquio (TOCOM) subiram pelo sexto consecutivo; o contrato RSS3 para agosto de 2025 negociava a 332 JPY/kg e o contrato para dezembro a 334,8 JPY/kg. O site destacou que investidores estavam preocupados com a possibilidade de o conflito na fronteira entre Tailândia e Camboja elevar ainda mais os preços, devido ao risco de interrupção das exportações. Ao mesmo tempo, o preço de futuros de borracha no mercado de Xangai (SHFE) caiu quase 1% para 15.140 yuans/tonelada, indicando que a pressão estava concentrada nos mercados vinculados à produção tailandesa.

O cessar‑fogo trouxe alívio imediato aos operadores, pois evita danos às seringueiras e à infraestrutura de transporte na região fronteiriça. No entanto, analistas alertam que qualquer violação do acordo poderá reavivar preocupações de oferta. Fatores geopolíticos se somam a questões climáticas para formar o preço da borracha natural. Uma nova onda de tensões poderia restringir a colheita de látex, atrasar embarques e afetar contratos futuros. Por outro lado, a retomada das comunicações entre os governos tende a estabilizar o fluxo comercial e reduzir o prêmio de risco.

Perspectivas para produtores brasileiros

Para o Brasil, que busca ampliar a participação no mercado global de borracha natural, a crise na Ásia oferece tanto riscos quanto oportunidades. A instabilidade entre os dois maiores produtores do Sudeste Asiático pode abrir espaço para exportadores emergentes, mas também pressiona os preços de insumos importados pela indústria pneumática. Conforme análise da Painel Aberto, a entressafra de 2025 deve ser mais amena, o que pode manter a oferta relativamente estável. Entretanto, novas exigências ambientais da União Europeia e possíveis tarifas dos EUA sobre produtos chineses podem alterar os fluxos de comércio. Nesse contexto, acompanhar de perto a evolução do cessar‑fogo e diversificar mercados serão estratégias fundamentais para produtores brasileiros.

Conclusão

O cessar‑fogo imediato e incondicional entre Tailândia e Camboja, mediado pela Malásia e apoiado por grandes potências, representa um passo decisivo para a estabilidade regional. Embora ainda haja tensões históricas em torno da delimitação da fronteira e do templo Preah Vihear, a retomada do diálogo diminui o risco de interrupções prolongadas nas exportações de borracha natural — commodity em que a Tailândia exerce liderança mundial. Os mercados reagiram a essa incerteza com alta nos preços em Tóquio diante do temor de escassez. A efetividade do acordo determinará se os preços se normalizarão ou se novos choques de oferta surgirão. Para países como o Brasil, que buscam espaço no mercado global, a estabilidade na Ásia continua sendo um fator chave, mas a diversificação e a sustentabilidade também serão determinantes nos próximos anos.