O mercado global de borracha natural encerra 2025 com oferta apertada e pressão sobre os preços. Previsões de chuvas fortes no sul da Tailândia, principal produtor mundial, entre 12 e 16 de dezembro, e tensões fronteiriças envolvendo o vizinho Camboja elevam o risco de interrupções logísticas. Como resultado, os contratos futuros atingiram cerca de 174 centavos de dólar por quilo, o patamar mais alto desde o início de dezembro.
Segundo relatório da Trading Economics, a produção de borracha natural na Malásia somou 29,7 mil toneladas em outubro de 2025, avanço de 11,4 % em relação ao mês anterior, mas ainda 22,7 % abaixo do mesmo período de 2024. Ao mesmo tempo, dados econômicos fracos da China, maior importadora de borracha, contiveram as expectativas de demanda. A Associação dos Países Produtores de Borracha Natural (ANRPC) projeta que a produção global de 2025 crescerá apenas 1,3 % para 14,892 milhões de toneladas, enquanto a demanda subirá 0,8 % para 15,565 milhões de toneladas, mantendo o desequilíbrio entre oferta e consumo.
No Brasil, o contexto é paradoxal. São Paulo responde por cerca de 65 % da produção nacional, e a safra 2024/2025 foi estimada em 266 mil toneladas, 8,8 % acima do ciclo anterior. Entretanto, queimadas, escassez de trabalhadores e adversidades climáticas podem reduzir a produção em até 20 %. Apesar da incerteza de volume, a rentabilidade alcançou o melhor patamar em cinco anos: em fevereiro de 2025 o quilo de coágulo foi negociado a R$ 6,65, alta de 118 % frente a 2024, enquanto os custos operacionais ficaram em torno de R$ 5 por quilo. O índice de referência do granulado escuro brasileiro (GEB) atingiu R$ 15,40 por quilo em março, refletindo a firmeza do mercado internacional; analistas estimam que a demanda global deva permanecer cerca de 1,5 % acima da oferta nos próximos anos.
O governo federal tem reforçado a proteção ao setor. Em setembro, a Camex prorrogou por 24 meses, até agosto de 2027, a alíquota de 10,8 % sobre a importação de borracha natural. A decisão, pleiteada por associações como Apabor e CNA, visa resguardar o produtor nacional diante da concorrência asiática e oferecer previsibilidade de preço. Mesmo com a tarifa, o país continua dependente de importações para suprir entre 40 % e 50 % da demanda. A produção brasileira supera 370 mil toneladas anuais e atende cerca de 57 % do consumo interno, sendo São Paulo o principal polo produtor.
Diante desse quadro, as perspectivas para o heveicultor brasileiro são positivas, mas requerem planejamento. O ambiente de preços elevados melhora as margens e possibilita a renovação dos seringais com clones de alto rendimento e a adoção de soluções da agricultura 4.0, como previsão climática, rastreabilidade georreferenciada e contratos digitais. Por outro lado, a escassez de mão de obra e a variabilidade climática demandam investimentos em capacitação, mecanização e manejo integrado. É essencial também acompanhar a evolução de regulações internacionais, como a EUDR europeia, que exigem rastreabilidade e sustentabilidade, abrindo espaço para produtos diferenciados.
Em resumo, 2025 termina com um mercado global de borracha natural caracterizado por oferta restrita e preços sustentados por fatores climáticos, logísticos e regulatórios. O Brasil, embora ainda dependa de importados, tem a oportunidade de ampliar sua participação se investir em tecnologia, gestão eficiente e cumprimento de exigências socioambientais. A combinação de perspectivas de demanda firme, tarifa de importação prorrogada e potencial de crescimento da produção nacional cria um ciclo favorável, mas que só será aproveitado plenamente com planejamento e inovação.



